terça-feira, 17 de novembro de 2009

Os receios

Com o tempo, o avançar da idade... mudam-se as vontades, transformam-se os desejos, renovam-se as esperanças, encontram-se verdades, concretizam-se sonhos, mas também ganham-se ou perdem-se medos.

Medo de andar, de correr, de saltar, de ir à escola, de fazer amigos, de conhecer a primeira professora, de estudar e ter boa nota no teste, de andar de bicicleta, de mergulhar na onda do mar, de nadar... e chegamos a uma certa idade e os medos são outros.

Medo de nos apaixonarmos, medo de amar, medo do compromisso... E tudo isto tem uma relação aos nossos primeiros medos. Porquê? Porque é tudo um único medo... o medo de nos magoarmos. Visto de perspectivas diferentes, em circunstâncias concretas e em cenários mais crescidos.

E estes medos acabam por condicionar, consciente ou inconscientemente, a nossa capacidade de viver e de apreciar as coisas boas que a vida tem para nos dar. Afinal de contas, somos nós que construimos a vida que temos, está nas nossas mãos a concretização dos nossos sonhos... mas... a nossa mente é uma coisa maravilhosa, complexa e por vezes traiçoeira.

Atira-nos com mil e uma perguntas, na generalidade excessivas e desnecessárias, que nos impedem de ver a simplicidade da nossa existência. É quase instintivo para alguém complicar tudo, com histórias, filmes, desconfianças, inseguranças... que passado certo tempo... tornam-se em traumas e recalcamentos sérios.

Perdemos a oportunidade de viver uma maravilhosa história de amizade, de amor... por pensar que talvez não conseguimos mais amar alguém... que o passado consumiu toda a capacidade de o fazer. Pois isso não é verdade... é também quase instintivo para alguém desenvolver um laço de afeição por alguém. E o amor expressa-se de várias formas... o problema é pensarmos que amar é somente aquilo que já tivemos em tempos.

Não é... pode ser algo muito diferente... melhor ou pior, não interessa... é de certo diferente, e isso sim é o importante!

Aos cavalos e aos burros é que se colocam talas para impedir que se desviem do seu caminho... e mesmo assim é uma verdadeira palermice! Será que hoje em dia o nosso medo de magoarmos-nos leva a que coloquemos talas em nós mesmos?

É do nosso instinto procurarmos a nossa protecção... a nossa auto-preservação... nos mais variados níveis... e como seres imperfeitos que somos... nem sempre fazemos um bom trabalho!

Porque amar faz parte da vida... faz parte do nosso crescimento. É o amor que nos faz correr destemidamente para alcançar a meta de uma maratona de milhares de kilometros... a maratona da vida... com os seus pontos de passagem pelo caminho... Sem esse amor, essa paixão... o passo é mais lento... os pontos de paragem não têm tanta importância... e muitos ficam pelo caminho sem conhecer o verdadeiro sabor da vitória, da conquista de algo maior!

Temos medo de conversar, de partilhar os nossos pensamentos, os nossos sentimentos... mas inequivocamente procuramos sempre uma forma de o fazer... daí ter nascido a arte... nos seus múltiplos planos... como formas de expressão do que reside dentro de nós. Mas que tal conversarmos mais uns com os outros? Será que o que ganhariamos seria superior ao que perderiamos? Será que perderiamos algo? Ou é apenas falta de fé?

No fundo do coração de todos existe uma necessidade... a de obter um fecho sobre os assuntos... brigas com os pais, com amigos/as, namorados/as... dilemas e problemas existenciais... e só conseguimos isso pela comunicação... porque nos procuramos sempre entender o que é que o nosso meio nos está a transmitir. O filme que vimos, qual a mensagem? O livro que lemos, qual a moral? Se temos um sonho, o que significa? As acções dos outros, porque serão?

Queremos sempre entender tudo, mas temos medo de perguntar a quem devemos... medo das respostas? Medo de nos magoarmos? Mas sem as respostas, não magoa mais? Não acabamos por magoar os outros, porque criamos barreiras e defesas colossais?

Pensem sobre isso...

5 comentários:

  1. Tenho o privilégio de ser a primeira a comentar este texto maravilhoso, cheio de sentimento e emoçao... e muita coisa acertada!!! Adorei! E concordo com muitos aspectos q aqui referes e com o principal: o medo de nos magoarmos. Sim, é uma verdade! E quem diz q nao tem medo, nao está a ser sincero consigo mesmo! Todos temos medo e é um medo plausível, mas muitas vezes só quando nos magoamos é q conseguimos seguir em frente, pq de cada vez q isso acontece, ha sempre qq coisa q muda em nós e nos faz compreender pq acontecem determinadas coisas! Magoar e aprender andam muitas vezes de mão dada! É preciso saber viver e saber aproveitar o q a vida tem de bom para nos dar... se nos magoarmos, azar... aprenderemos com certeza com isso! Beijinho grande para ti... És lindo! Cláudia

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  2. Há pessoas que criam essas barreiras à sua volta, de uma forma tão inconsciente do erro que estão a fazer, que nem se apercebem que se magoam muito mais ao fazê-lo do que se não o fizessem. O amor tem um poder tão forte em nós que quando nos derruba faz-nos acreditar que o poder de destruição pode ser diminuído se nós dermos menos amor.

    O que disse uma vez a alguém foi "se não amares com toda a intensidade e as coisas acabarem um dia, tu vais sofrer com a mesma intensidade, e achar que foi tudo uma perda de tempo. Mas se amares e deres tudo, no final podes sentir que aquilo que viveste no intermédio valeu a pena. Porque sofrer sofre-se sempre. Se se der tudo ou não se der nada." E sofre-se sempre com a mesma intensidade. Porque essa é a força do amor. Falar não resolve sempre tudo, mas os 90% que resolve é uma boa fatia do bolo.
    O medo... O medo de amar, o medo de magoar, o medo de sofrer... É a pior arma de destruição que temos contra nós próprios. Porque nós podemos ter medo de tudo. E se o tivermos chegamos ao fim e não vivemos.
    Os muros levantam-se mas há quem tenha força o suficiente para os derrubar. Tu és uma dessas pessoas. E se precisares de força extra sabes bem onde a encontrar. Mas eu sei que não precisas.=)

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  3. Como é que num texto relativamente pequeno, consegues pôr grandes verdades!!!
    Fez me pensar será que tenho assim tanto medo de me magoar?! parece que sim! Passei tanto tempo a criar barreiras, que ainda não consegui conhecer verdadeiramente esse amor "que nos faz correr destemidamente para alcançar a meta de uma maratona de milhares de kilometros... a maratona da vida... com os seus pontos de passagem pelo caminho..."
    Mas também acredito que quando o encontrar, novamente, as barreiras cederão.
    Espero eu =P

    p.s: tu sabes quem sou

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  4. Gostei muito deste teu texto e decidi deixar aqui a minha modesta opinião...
    O medo condiciona-nos, limita-nos os movimentos, aprisiona-nos e por vezes também, desvia-nos daquele que seria para nós, o caminho mais recompensador e falo por experiência própria. Se alcançar a felicidade faz-nos por vezes sentir que tocamos com as mãos no céu, a dor da perda é sempre uma armadilha perigosa. Um limpo que nos prende a alma, ficando esta suspensa, quebradiça e frágil. A dor e o prazer vão sempre viver lado a lado assim como os ganhos e as perdas, é um erro vivermos sempre com receio, refugiados numa segurança e (aparente) perfeição moribunda.
    A lição que aprendi com a vida foi que de nada me serve viver com medo, isolado numa ilha. A vida não é mais do que um processo dinâmico de ganhos e perdas, de tudo e e nada alternados. Se vencer ficarei feliz. Se perder facilmente conseguirei assimilar a derrota e seguir em frente, se "morrer", vou querer renascer para voltar a sorrir, transformando todo o veneno da vida e tudo o que faz doer em coisas boas.

    Brilha!.... =)

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  5. Gostei muito deste bocadinho...esta partilha...este reflexo de pensamentos sabe tão bem.(Adoro a tua escrita...)
    Fez-me recordar um momento com o meu mano pequenote, qua há dias se saiu com esta "a vida é que nos ensina a viver nela",é nestas alturas que se fica de queixo caído...e aqueles olhinhos, deixam-nos assim, petrificados no tempo. Isto passou-se pouco depois de termos passado por um bocado menos bom e procurando colo, aconchegando o estômago com uma caneca de leite com chocolate e canela quentinho e de uma forma tão naif, esta criança apercebe-se da quantidade de aprendizagens que tem que fazer...apercebe-se que ja não tem medo do escuro, mas que ainda assim prefere ficar com a luz de presença ligada, que afinal mudar de escola ja não é assim tão mau porque ja tem "um novo melhor amigo", que "ainda o ano passado tinha 10 anos, que este ano vai fazer 11 e para o ano ja tem 12 e qua ja veste para 14 anos" e que por muito que as pessoas gostem umas das outras, ainda conseguem magoar-se e que até os adultos fazem disparates... Mas que complicado que é crescer neste Mundo!e quando lhe beijamos a testa e lhe dizemos "es um menino tão bonito, estas a crescer tanto e vais ser um homenzinho"...ainda nos diz: "não quero crescer"!
    Ora pois, que saudades da nossa infancia, mas nesse instante procura-se exaltar a esperança e relembrar que ao crescer temos mais capacidade de superar problemas, que evoluimos porque aprendemos muita coisa com as experiências pelas quais passamos e que nos impedem de cometer erros...e que nos trazem coisas boas!
    Que nos tornamos pessoas mais fortes.
    Procuramos relembrar que o intuito da vida não é superar problemas, mas sim, crescer com eles e procurar um caminho que nos conduza à felicidade.
    Procuramos apoio nas pessoas que gostam de nós...não são precisas muitas...somente as mais especiais, as que nos dão o nosso verdadeiro valor e que nos conhecem como ninguem...as que estão num lugar mais recatado do nosso coração e que são imprescindiveis!
    Aprendemos que é preferivel arriscar,sim, mais vale arrependermos de ter feito algo, do que não ter feito nada. Que a felicidade nos bate à porta quando menos se espera!
    Que o Amor existe...que vale a pena...e que os momentos felizes superam sempre as mágoas de uma ruptura... que mais cedo ou mais tarde dão lugar a um novo Amor!
    O caminho é longo mas vale a pena sorrir...viver o momento e fazer alguem mais feliz...sem medo!

    Beijinhos grandes e abracinho`*´

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