segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Tarde e muito más horas


É verdade... aqui estou eu às 05:42. Incrível! Tenho sono mas a minha mente borbulhava com ideias e tive de vir para o computador escrever mais um pouco. O livro que comecei a escrever, e cujo primeiro capítulo está neste blog, post entitulado "O começo de um livro", teve de ficar em standby. STANDBY.... significa que vou retomar a escrita desse livro. Que já vai muito mais além do primeiro capítulo, é claro!

Surgiu um outro projecto e neste momento tenho de me focar em escrever uma história nova e totalmente diferente. Se vos pudesse contar, iam ver! Dava um verdadeiro filme de Hollywood! Tipo animação da Pixar, com cenários fantásticos, personagens divertidas e é claro, uma história de fazer rir e chorar, para crianças, adultos e até os mais velhotes! Estou tão entusiasmado com estes meus livros!! Vão ser best-sellers!! Quem sabe, blockbusters!!

Quando ingressamos num caminho, nem imaginamos o que nos vai realmente acontecer. Podemos imaginar mil coisas, mas a sucessão de eventos e consequências, são algo de extraordinário. As pessoas que conhecemos, os desafios que nos lançam, a força que nos compele e os obstáculos que forçosamente insistem em surgir.

Considero-me uma pessoa bastante optimista, e tenho a tendência de passar esse optimismo a quem convive comigo. Por vezes os resultados são notórios, porque sem dúvida a entre-ajuda é uma das melhores dádivas que acompanha a amizade. Mas noutras ocasiões, por mais optimista que seja, parece que não consigo ajudar.

Talvez porque não é esse o meu papel naquele momento. Talvez porque essa pessoa precisa de passar por esse momento de provação, de dúvida, de tristeza e desespero, para poder ver, mais tarde, a resposta às suas perguntas.

Foi essa a lição que a vida me deu. Ser paciente, aceitar a vida tal como ela é, e os seus acontecimentos como algo que não poderia acontecer de outra forma, e assim mais tarde colher os frutos em forma de clareza de espírito. Hoje em dia entendo tanta coisa, muita que demorou anos a entender plenamente. O importante é não deambular demasiado tempo, pois com o tempo vêm os hábitos. Hábitos de ser comodista ou de ser um guerreiro, hábitos de ser cego face ao mundo ou de ver de forma clara tudo o que nos rodeia... agora cabe a cada um de nós escolher o nosso caminho...

Posso ajudar quem precisar... não a escolher, nem a andar... mas apenas a ver!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O tempo e os momentos

Bem, aqui estou eu de volta para deixar algumas palavras a quem gosta de as ler...

Está um dia cinzento e sombrio... chuvoso e mais do que teimoso... chegou bem cedo e insiste em acompanhar o nosso dia até ao seu fim.

É um "mal" necessário se o nosso objectivo for sair e andar a passear pelas ruas, mas até é bem interessante se quisermos estar em casa, seja lá qual for o nosso programa. Eu já saí de casa e fui tratar do que tinha a tratar... cheguei a casa, almocei e tenho estado a trabalhar nas minhas tarefas. O meu conceito de dia de chuva não é estar deitado no sofá a ver televisão.

Ao menos façamos algo de útil e proveitoso com a nossa vida quando surgem estas oportunidades. São excelentes momentos para reflectir, dedicarmos-nos a nós mesmos, tratar da casa, de nos organizarmos... mas claro... é preciso querer!!!

Mas o tema "força de vontade"... deixo para outro dia... por agora aproveitem o lado positivo deste dia de chuva... e façam-no "vosso"... e façam o suficiente para poder recordá-lo com um sorriso... por mais pequeno que seja o gesto...

:)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Os receios

Com o tempo, o avançar da idade... mudam-se as vontades, transformam-se os desejos, renovam-se as esperanças, encontram-se verdades, concretizam-se sonhos, mas também ganham-se ou perdem-se medos.

Medo de andar, de correr, de saltar, de ir à escola, de fazer amigos, de conhecer a primeira professora, de estudar e ter boa nota no teste, de andar de bicicleta, de mergulhar na onda do mar, de nadar... e chegamos a uma certa idade e os medos são outros.

Medo de nos apaixonarmos, medo de amar, medo do compromisso... E tudo isto tem uma relação aos nossos primeiros medos. Porquê? Porque é tudo um único medo... o medo de nos magoarmos. Visto de perspectivas diferentes, em circunstâncias concretas e em cenários mais crescidos.

E estes medos acabam por condicionar, consciente ou inconscientemente, a nossa capacidade de viver e de apreciar as coisas boas que a vida tem para nos dar. Afinal de contas, somos nós que construimos a vida que temos, está nas nossas mãos a concretização dos nossos sonhos... mas... a nossa mente é uma coisa maravilhosa, complexa e por vezes traiçoeira.

Atira-nos com mil e uma perguntas, na generalidade excessivas e desnecessárias, que nos impedem de ver a simplicidade da nossa existência. É quase instintivo para alguém complicar tudo, com histórias, filmes, desconfianças, inseguranças... que passado certo tempo... tornam-se em traumas e recalcamentos sérios.

Perdemos a oportunidade de viver uma maravilhosa história de amizade, de amor... por pensar que talvez não conseguimos mais amar alguém... que o passado consumiu toda a capacidade de o fazer. Pois isso não é verdade... é também quase instintivo para alguém desenvolver um laço de afeição por alguém. E o amor expressa-se de várias formas... o problema é pensarmos que amar é somente aquilo que já tivemos em tempos.

Não é... pode ser algo muito diferente... melhor ou pior, não interessa... é de certo diferente, e isso sim é o importante!

Aos cavalos e aos burros é que se colocam talas para impedir que se desviem do seu caminho... e mesmo assim é uma verdadeira palermice! Será que hoje em dia o nosso medo de magoarmos-nos leva a que coloquemos talas em nós mesmos?

É do nosso instinto procurarmos a nossa protecção... a nossa auto-preservação... nos mais variados níveis... e como seres imperfeitos que somos... nem sempre fazemos um bom trabalho!

Porque amar faz parte da vida... faz parte do nosso crescimento. É o amor que nos faz correr destemidamente para alcançar a meta de uma maratona de milhares de kilometros... a maratona da vida... com os seus pontos de passagem pelo caminho... Sem esse amor, essa paixão... o passo é mais lento... os pontos de paragem não têm tanta importância... e muitos ficam pelo caminho sem conhecer o verdadeiro sabor da vitória, da conquista de algo maior!

Temos medo de conversar, de partilhar os nossos pensamentos, os nossos sentimentos... mas inequivocamente procuramos sempre uma forma de o fazer... daí ter nascido a arte... nos seus múltiplos planos... como formas de expressão do que reside dentro de nós. Mas que tal conversarmos mais uns com os outros? Será que o que ganhariamos seria superior ao que perderiamos? Será que perderiamos algo? Ou é apenas falta de fé?

No fundo do coração de todos existe uma necessidade... a de obter um fecho sobre os assuntos... brigas com os pais, com amigos/as, namorados/as... dilemas e problemas existenciais... e só conseguimos isso pela comunicação... porque nos procuramos sempre entender o que é que o nosso meio nos está a transmitir. O filme que vimos, qual a mensagem? O livro que lemos, qual a moral? Se temos um sonho, o que significa? As acções dos outros, porque serão?

Queremos sempre entender tudo, mas temos medo de perguntar a quem devemos... medo das respostas? Medo de nos magoarmos? Mas sem as respostas, não magoa mais? Não acabamos por magoar os outros, porque criamos barreiras e defesas colossais?

Pensem sobre isso...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Está aberto o Consultório!!!!

Bem... dizem que a vida é cheia de momentos diferentes que no fim acabam por cruzar-se para nos transmitir uma mensagem profunda sobre o nosso propósito nesta vida. Verdade seja dita que nem todos entendem a mensagem... doravante muito menos entendem o seu propósito. Andam meio perdidos como transeuntes e peões entre passadeiras das várias estradas em que andam...

Eu cada vez mais fico convencido de que devo dedicar-me ao acompanhamento focalizado de pessoas, nos mais variados níveis, seja psicológico, físico ou espiritual...

No fim das contas está tudo relacionado e interligado, mas nem todos estão conscientes das "fontes reais" dos seus "problemas". Falta de visão, ignorância ou demasiada razão imperativa.

Convencemos-nos que a nossa dor de cabeça, é nada mais nada menos do que o fruto de um dia stressante na escola, trabalho ou casa. De que os pesadelos são apenas pesadelos sem significado... de que a nossa insegurança, medos variados, recalcamentos... não podem ser ultrapassados..

Mas... no meu ver... as coisas não são bem assim!!! Há sempre uma maneira positiva e mais completa de ver tudo o que se passa em nosso redor!!

Por esse motivo... está aberto o Consultório... seja qual for o teu problema... ofereço orientação, uma palavra para ajudar a ver mais e melhor!

Queres? Fala comigo.... falo contigo também! Prometo... =)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Digitalizar digitalmente


Recentemente, uma colega de trabalho foi surpreendida com um e-mail (classificado Para Maiores de Idade CEREBRAL) a solicitar o seguinte:

"Digitalizar digitalmente".... um ficheiro PDF. (Momento Fellini???)

Perguntas que subitamente disparam de forma gritante na minha mente:

1. Quem sou eu e o que estou aqui a fazer?
2. Como é que se digitaliza digitalmente?
3. Como é que se digitaliza digitalmente um ficheiro PDF enviado por e-mail?

A primeira pergunta decidi guardar para uma tarde chuvosa de Inverno, ou talvez para uma longa noite de insónias. Tal questão filosófica não se enquadra nos estatutos do trabalhador desta instituição... aliás... muitos abdicaram do direito à procura de resposta quando assinaram contrato.

A segunda pergunta obrigou-me a imaginar cenários idílicos em que pessoas que cometem tamanha atrocidade (dizer tamanha estupidez) são obrigadas a comer cebola crua com mel, e de boca cheia repetir a enorme barbaridade que escreveram. Pois, é que o pior disto tudo... esta burrice foi colocada por escrito. Ou seja, poderíamos agora espalhar centenas de folhas com a fotografia do colega e a sua citação mais célebre... "digitalizar digitalmente", como (imaginem lá a loucura)... uma NOTA DE RODAPÉ... uhhhhh muito profissional... a dizer: "Um documento pdf... anexado ao e-mail".

Colocar no Metropolitano de Lisboa, e tirávamos aquelas publicidades à Western Union, que só os Ucranianos e Brasileiros precisam, e ficava lá esta obra de arte... Digam lá que não ia despoletar umas valentes gargalhadas matinais... a vida seria muito mais engraçada!

Isto para nem falar em Outdoors, destaque no Jornal da Noite... Imaginam a Manuela a fazer a introdução a esta "Grande Reportagem"??? "Meus senhores, calcula-se que este senhor seja um débil mental" (tudo dito com a sua boca três vezes maior que a sua cabeça...)

Bem, uma vez retornado à realidade, e concluindo que tal cenário seria "digitalmente" impossível, concentrei-me na última pergunta.

Pois bem, como é que se digitaliza um documento anexado a um e-mail? Ora, se ele está anexado no e-mail... em formato PDF... onde quererá chegar o senhor que pediu esta tarefa à minha colega?

Respostas possíveis:

1. Novo programa da TVI com o Goucha e o Herman José, entre tachos e panelas(lol!!!), chamado "Mails à moda portuguesa - versão Apanhados", que iria mostrar o que os portugueses fazem quando recebem mails estúpidos! (seria giro por acaso...)
2. A pessoa que enviou o e-mail toma drogas e tem por hábito levar um saco "de gomas" para o cinema e come "smints" durante o dia! (Bolas, já não sou o único...)
3. Uma música, que nem um "jingle" da minha vida... "Quis saber quem sou... o que faço aqui..."

Conseguem imaginar alguem a segurar um scanner, encostar ao monitor e "digitalizar digitalmente" o documento?? Eu consigo... mas seria lógico? Não... mas seria interessante? Ia rir de certeza!

No entanto, não foi o que foi feito, e optou-se por gozar, gozar, gozar... rir, rir e rir... e tornar esse mail, a piada do momento! Agora para tudo... "digitalizar digitalmente"... serve como resposta!

Digitalizar digitalmente é o futuro... lado a lado com o "álcool e drogas"...

Oh colega do mail... sentes uma corrente de ar aí em cima? Ouves um eco....? Talvez falte uma coisa importante...

Um cérebro... talvez!?!?!?!? Ou então apenas um café... também pode ser isso...

terça-feira, 14 de julho de 2009

O começo de um livro

Estava uma tarde de sol em pleno mês de Julho, mas o calor não se sentia como era hábito. Era uma tarde igual a tantas outras nesse Verão. Mesmo assim pelas ruas as pessoas, famílias, amigos ou meros estranhos, desfilavam contentes por sentirem o Sol a aquecê-los docemente.

Era claramente possível distinguir quem estava na plataforma com o único objectivo de chegar à praia.

"Parecem rebanhos” – dizia Sebastião, com o seu ar sempre brincalhão, e um ligeiro tom irónico na voz.

“Lá estás tu a criticar!!!” – disse Alice, com o seu olhar moralista e reprovador, a tentar passar a imagem de santa pura e imaculada.

Mas efectivamente até pareciam rebanhos, massas de gente descontraída à espera de aproveitar umas horas de praia, prontas para torrar ao Sol que nem plantas em fotossíntese. Muitos já pareciam lagostas suadas, com um tom de pele vermelho do seu belo e típico escaldão, completamente inconscientes dos males que isso lhes trazia.

“Gente estúpida!!! Devem querer morrer cedo! Já viste aqueles escaldões?? Se usassem protector nada disso acontecia. E depois admiram-se com as notícias quando chegam a casa, e até devem ser capazes de chamar os outros de inconscientes. Depois chegam à praia e usam factor 2 para bronzear mais. Quando tiverem cancro da pele não chorem muito. Eu não vou ter pena alguma!!!” - disse Sebastião, já olhando para o seu futuro como médico.

Sebastião, um rapaz alto, magro, moreno e de cabelo curto espetado com gel que nem um miúdo traquina, tinha agora os seus 20 anos, tal como Alice, e estava a tirar o curso de Medicina. Era o orgulho da família, o único filho, num total de 3, a tirar um curso universitário e logo Medicina. Os pais falavam dele a todos os vizinhos, e Sebastião era conhecido como um brincalhão de primeira, mas um verdadeiro crânio. A sua família era de origens simples, nem pobre nem rica, humilde, unida e sempre com uma visão positiva face à vida.

“És tão parvo Sebastião! Já a chamar nomes às pessoas!! Sabes lá se até usaram protector com factor 750, mas a pele é tão sensível que apanharam um escaldão. Partes tão rápido para os teus juízos de valor! Nem sempre as coisas são como parecem ser. E quando terminares o teu curso, não tenhas pressa em dizer às pessoas que elas vão morrer só porque não usaram o factor de protecção que deviam e agora têm cancro. Isso é maldade!! E o teu dever é ajudar, não criticar!!!” – disse Alice, novamente com o seu semblante característico de santa moralista.

“Oh Alice! Sempre com as tuas lições de moral! Tu não mudas! Mas olha, não és nenhuma santa! E ninguém te vai canonizar! Há mais probabilidade de te carbonizarem, do que te canonizarem.” – Disse Sebastião a rir desalmadamente para todos ouvirem, com a sua gargalhada contagiante.

“És tão tonto! Vá, vamos lá!! Vem aí o comboio. Mais uma gracinha dessas e atiro-te para a linha do comboio.” – disse Alice com um ligeiro tom maléfico mas sempre na brincadeira, afinal ela e Sebastião eram melhores amigos há tantos anos.


“Então Santa, estás a virar pecadora agora? Queres quebrar um dos mandamentos? Ai ai essa catequese! Andas a faltar!?” – disse Sebastião, sempre gozão e irónico. Alice nem prestou atenção.

“Já viste aquela senhora esquisita? Que roupa pessimamente coordenada!” – Disse Alice.

“Ah, sou sempre eu que critico, não é? Agora és tu!! Esse comentário foi tão superficial. Não vês que é uma sem-abrigo? Coitada, mal deve ter tido dinheiro para o bilhete. Provavelmente nem sequer comprou, e daqui a pouco aparece o revisor e lá vai ela escorraçada numa paragem qualquer. Enfim... é a vida” – Disse Sebastião, com um suspiro pesado de tristeza, já sentado na carruagem do comboio. Alice preferiu não responder. Ela detestava ser alvo de críticas, e agora tinha sentido que não havia tomado a melhor atitude, mas nestes assuntos de aparências, ela tendencialmente era muito superficial.

Ficaram então os dois a contemplar fixamente a tal senhora, que estava sentada lá mais à frente, virada de frente para eles. Tinha um olhar envelhecido, vazio e triste, como de quem nunca deve ter sido feliz em toda a sua vida.

“Secalhar não tem família, ou então é daquelas senhoras cujos filhos simplesmente as abandonaram. É tão triste ver alguém assim. Fogo, dá-me um aperto no coração só de imaginar a vida que a senhora deve ter!”

“Olha, porque não vais lá meter conversa com ela? Já que estás tão interessado!” – disse Alice.

“A sério, não estou a gostar da tua atitude. Só estou a dizer que deixa-me triste ver alguém assim. Não tens coração? Para uns assuntos tens sempre a mania dos moralismos, quer dizer ainda há pouco estavas a criticar-me porque eu estava a falar dos escaldões e agora estás aí a criticar a roupa da senhora e este assunto nem sequer te deixa minimamente comovida.” – disse Sebastião, irritado e desiludido pela atitude, embora já estivesse habituado à superficialidade de Alice naqueles assuntos de aparências.

Alice, uma rapariga de altura média, nem magra, nem gordinha, de cabelos negros compridos, cheia de gestos delicados e uma voz doce, filha única mas órfã de pai e de mãe. Estes haviam falecido com uma doença tropical desconhecida, numa viagem à Amazónia, tinha Alice 8 anos, sendo obrigada a passar pelo episódio todo sozinha num quarto de hospital, enquanto os médicos tentavam salvar os seus pais. Até hoje ela pensava que eles podiam ter sido salvos. Tinham feito a viagem com todas as vacinas feitas, eram sempre cuidadosos, e não havia razão para terem morrido, deixando-a aos cuidados da sua terrível avó de alcunha Cubo de Gelo Pombalino. Vivia com a avó, a Sra. Teles de Oliveira, uma senhora que gozava de uma vida folgada, e ostentava um estilo de vida luxuoso, mas sempre rígida e distante quem nem um cubo de gelo, sempre com o seu distinto e único corte de cabelo que mais parecia feito à imagem e estilo do famoso Marquês de Pombal, e daí a sua alcunha. A Sra. Teles de Oliveira sustentava a única neta, não deixando que lhe faltasse roupa, comida e educação, mas não havia lugar para luxos.

“Queres carros, saídas, e brincadeira? Para isso podes arranjar um emprego que só te faz bem. Para o resto, o essencial, estou cá eu para garantir que nunca te falte nada.” – era o que a Sra. Teles de Oliveira sempre dizia a Alice, não muito contente com a escolha de curso da neta, Jornalismo e Ciências da Comunicação, contudo sabia ser este o sonho de Alice.

Foram calados a viagem toda até Alcântara, observando pelo caminho conforme as pessoas saiam do comboio, de toalha e mini-arca frigorífica, a caminho das praias, mas sempre com o canto do olho na tal senhora que se encontrava à sua frente, cabisbaixa e solitária. As suas rugas profundas evidenciavam uma tristeza antiga, inúmeras histórias de consternação, e os seus olhos vazios mostravam que já nada a preenchia.

“Próxima paragem, Alcântara.” - disse a simpática mas automática voz do comboio.


O comboio pára, ambos levantam-se, vão até às portas, e saem, sempre calados, afinal já sabiam o seu destino, a sua esplanada favorita nas docas.

Mal chegaram à esplanada foram cumprimentados pelo empregado de mesa, o Filipe. Ele tinha sempre um sorriso especial para Alice, a quem dava sempre um pequeno chocolate com o café. Sentaram-se à mesa, ao sol, e nem precisaram falar. Filipe já sabia o que eles queriam, dois cafés, afinal eles iam aquele café quase todos os dias, e todos os dias Filipe tentava meter conversa com Alice, mas sempre sem resultado.


Sebastião e Alice ainda não se falavam, sentados a olhar para o rio, para a ponte, para os pássaros, para os barcos, mas nunca um para o outro. Surge então Filipe com os dois cafés, e sempre com um sorriso nos lábios como habitualmente.

“E um chocolatinho para si!!” – disse Filipe, com um olhar vidrado em Alice, que apenas agradece-lhe com muito esforço e sem sorriso.

“És tão patético! Alguma vez eu te ia dar trela? A um empregado de mesa? Enfim... se alguém soubesse era a morte da minha avó. Credo, deserdava-me em três tempos!” – pensou Alice, enquanto dava um trago no seu café, que naquele instante não tinha o sabor delicioso como nos outros dias, mas mais parecia veneno, algo intragável, difícil de tomar. Sebastião sentiu o mesmo quando bebeu o seu café. Era o sabor do constrangimento.

Alice nunca dava o braço a torcer, mas Sebastião, relembrado das lições de vida que a sua família sempre procurou incutir-lhe, decide subitamente meter conversa e quebrar aquele gelo que os impedia de aproveitar aquela tarde de sol.

“Vai um waffle com gelado, chantilly, nozes, amêndoas e topping de chocolate? Hmmmm... Tão bom! Vamos?”

“Nem pensar” – respondeu Alice – “Sabes bem que estou de dieta! Já viste os meus pneus? Estamos em Julho e eu aqui toda gorda. É por isso que nunca vou à praia. Que vergonha! E não é com waffles cobertos de calorias que eu vou ficar magra! Come tu que és um lingrinhas!”

“Mais um pouco e juntas-te à brigada da salada. Não?”

“Sim!” – responde Alice com um sorriso renovado – “Até gosto de saladas! Bem melhor do que essas comidas gordurosas e mega calóricas. Estás em Medicina, mas só comes porcarias!”

“Até parece que só como porcarias!” – disse Sebastião - “Achas que este corpo fenomenal é mantido como? Tenho uma dieta equilibrada.”

Olharam nos olhos um do outro, sorriram e subitamente desatam-se a rir sem parar de todo este episódio.

“És mesmo parvinha, sabias?” – disse Sebastião.

“Tu é que és, troll! “.

E assim tudo voltou ao normal, melhores amigos como sempre.

“Vamos andar um pouco? Já paguei os cafés. Aquele empregado está mesmo apanhado por ti” – diz Sebastião.

“Oh meu Deus, não desiste. Coitadinho do rapaz. Até é giro, mas é empregado de mesa. A minha avó ainda me matava se eu namorasse com alguém assim. Mas vá, vamos andar” – responde Alice, olhando curiosamente para a porta do café a ver se via o Filipe.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Uma redoma de vidro

Cada vez mais chego à conclusão que o mundo, tão vasto, complexo, repleto de variedade... dentro de si acaba por ser um aglomerado de pequenas redomas de vidro... muito mais simples, com uma variedade que em curto espaço de tempo... satura!

Nesta redoma de vidro... todos se cruzam... a maioria repara... outros tantos tocam-se... envolvem-se... e isto é o ciclo natural de vida... neste "mundo dentro do mundo"!

Este é o nosso meio... impossível escapar, impossível ignorar... fazemos parte dele! Nós mesmos cruzamos, reparamos, tocamos, envolvemos... é o nosso ciclo também! Não sejamos hipócritas... nao apontemos o dedo aos outros... quem somos nós?

Para quê tanta necessidade de guerrear, ser superior, ciumeiras descabidas...? A vida é muito mais do que esta redoma de vidro! Tentem olhar lá para fora de vez em quando... talvez se apercebam disso!

Inevitável, impreterível, incessante... assim é a vida! Vive-a...

Os dois lobos

Certa noite, um velho índio Cherokee falou com o seu neto sobre a batalha que acontece dentro das pessoas.

Ele disse: "A batalha é entre dois lobos dentro de todos nós. Um é o Mal - é a raiva, cobiça, inveja, mágoa, culpa, ganancia, arrogancia, tristeza, ressentimento, inferioridade, mentiras, falso orgulho, superioridade e o ego. O outro é o Bem - é a alegria, paz, amor, esperança, serenidade, humildade, simpatia, benevolencia, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé."

O neto pensou por um minuto e então perguntou: "E qual dos lobos ganha?"

O velho Cherokee respondeu: "Aquele que tu alimentas!"

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Eu...

Um ser de emoções fortes, carregado pelo passado eterno e efémero que insiste em constituir-me réu e arguido neste julgamento que é a vida.

Uma série de pontos de exclamação num corropio de palavras que gritam força, vontade, determinação, desejo, confiança, segurança, vitória...!

Uma energia volátil e imensurável, que cresce de dia para dia, ligado ao universo, ao mundo, ao mar, às plantas, ao mais ínfimo detalhe... na procura de um todo!

Um aglomerado de sonhos, de lutas, de concretizações... cicatrizes lentas que me marcaram, transformaram e fizeram tal como sou hoje...


Eu sou Um... apenas Um... Eu...

Gospel

Cantar em tantos palcos!


Músicas que enchem corações de centenas, de milhares...

St. Dominic's Gospel Choir


A concretização de um sonho... uma autêntica viagem que espero nunca terminar...


Cantar, dançar, bater palmas... ser a chave... a inspiração... dar força... ser energia... conquistar o público com cada nota...

My art